segunda-feira, 18 de março de 2013

São Patrício - Os Mitos por Trás do Santo

Ontem, 17 de Março, comemorou-se o dia de São Patrício; o santo padroeiro da Irlanda (terra tão venerada pelos místicos).
Há diversas lendas que envolvem a vida do santo que, embora seja padroeiro do país, não era irlandês. 
São Patrício era galês, mas se tornou o santo patrono da Irlanda porque foi ele o grande responsável pela evangelização na ilha e a conversão dos pagãos ao cristianismo no século IV.
Uma das lendas é que Patrício, depois de ter sido nomeado bispo, expulsou as cobras da Irlanda e, por este motivo, até hoje não existem cobras na Ilha Esmeralda. Na realidade, acredita-se que nunca existiu cobra na Irlanda,e que esta foi uma história simbólica e metafórica, onde as cobras representam os druidas que habitavam o país. Dizem que após a volta de São Patrício à Irlanda, onde havia sido escravo dos pagãos anos antes, a religião dos druidas perdeu a força e eles se sentiram obrigados a irem embora. Realmente, os druidas acabaram desaparecendo mas é provável que isto tenha acontecido gradativamente.
Outra lenda é a respeito do trevo que é um dos símbolos do padroeiro. Conta-se que São Patrício utilizou-se do famoso trevo, tão comum na ilha, para explicar o mistério da santíssima trindade cristã. Ele usava do trevo como exemplo, dizendo que assim como este era "um" com suas três folhas, Deus era um nas três pessoas da trindade. Alguns pagãos afirmam que este não é um conceito cristão e que o trevo já era um símbolo da deusa tríplice antes do santo catequizar na ilha.

Algo interessante é que, mesmo São Patrício tendo lutado contra os hábitos e costumes pagãos como muitos afirmam, até hoje a Irlanda é conhecida por seu grande sincretismo e lendas que remetem aos velhos tempos. No dia 17 de Março, pessoas vestidas de "Leprechauns" saem às ruas para festejar; também ilustrações destes seres fantásticos são impressas em cartões e cartazes com dizeres desejando um "Feliz Dia de São Patrício".
De modo muito curioso, as imagens deste elementais pagãos são muito mais difundidas nesta data do que as do próprio santo. 




sábado, 16 de março de 2013

Selkies - A Lenda da Mulheres-focas


Selkies são seres mitológicos presentes principalmente no folclore irlandês, escocês e finlandês. Embora comparadas às sereias, ao contrário destas que são metade peixe e metade mulher, as selkies são criaturas que vivem como focas e podem adquirir a forma humana. São criaturas mágicas capazes de se transformar tirando a pele de foca, adquirindo assim o aspecto físico de um humano.
Diz a lenda que elas, embora prefiram a vida no mar, se transformam em belas e sedutoras donzelas para dançar à beira da praia. Tornam-se mulheres cheias de encantos, tão lindas que um rapaz se apaixonaria logo à primeira vista.
Caso isto ocorra, só há uma maneira de fazer com que uma selkie permaneça entre os humanos e assim domina-la: deve-se encontrar a pele de foca da qual ela despiu-se e esconder a pele, ou guarda-la, num lugar que ela desconheça ou não tenha acesso - assim não poderá voltar para o mar.
De acordo com o mito, ao desposa-la e ter domínio sobre a selkie, ela poderá viver bem entre os humanos, tornando-se excelente esposa e prendada mãe. Porém, caso a selkie encontre sua pele, ela não hesitará em vesti-la e lançar-se no mar abandonando o marido e os filhos.
Em algumas histórias, conta-se que a selkie volta de tempos em tempos para brincar com os filhos humanos na orla da praia, sempre tomando o devido cuidado para não ser capturada novamente.
A palavra Selkie provém de "seal" (selo), isto vem da lenda que a selkie, para se tornar humana, tem que tirar a pele de foca que está selada.
Há lendas também sobre 'os selkies' que são metade foca e metade homem. Lendas estas que se aproximam dos contos brasileiros do boto-rosa ou homem-boto.
Abaixo segue o video com uma tradicional canção folclórica irlandesa também chamada de "Canção da Selkie". As cenas são do filme "The Secret of Roan Inish", que foi produzido baseado numa antiga lenda de uma mulher-foca.













quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Beth-Luis-Nion - O Calendário Celta das Árvores


Há alguns dias me deparei com um suposto "horóscopo celta" que muito me intrigou pois, neste horóscopo, haviam diversas árvores que jamais tiveram ligação com os povos celtas. Digo jamais, porque boa parte não é nativa da Europa onde viveram os celtas. Exemplo delas são: "quaresmeira", "seringueira", "goiabeira", "paineira", "manacá", "jacarandá", "ipê" e "goiabeira".
De onde surgiu este "horóscopo" ainda é um mistério, porém, acreditem, não é proveniente da cultura celta e nem fora criado por eles. Nem poderia, pois é bem provável que estas árvores em questão não se desenvolveriam facilmente em solo europeu.
Se houvesse um "horóscopo celta", talvez estaria ligado ao que Robert Graves chama de "Treze Meses das Árvores". São 13 períodos, os quais cada um deles é regido por uma árvore do "Ogham"
Ogham é um alfabeto celta associado à algumas árvores cujo os símbolos, acredita-se, eram também utilizados como oráculos. Segundo Graves, havia também um calendário relacionado a este alfabeto que foi denominado "Beth-Luis-Nion". Cada período em questão conta com uma árvore correspondente.
Seriam elas: 

24/12 a 20/01 - Bétula - Beth
21/01 a 17/02 - Sorveira - Luis
18/02 a 17/03 - Freixo - Nion
18/03 a 14/04 - Amieiro - Fearn
15/04 a 12/05 - Salgueiro - Saille
13/05 a 09/06 - Pilriteiro - Uath
10/06 a 07/07 - Carvalho - Duir
08/07 a 04/08 - Azevinho - Tinne
05/08 a 01/09 - Aveleira - Coll
02/09 a 29/09 - Videira - Muin
30/09 a 27/10 - Hera - Gort
28/10 a 24/11 - Junco - Ngetal
25/11 a 22/12 - Sabugueiro - Ruis

***23/12 - Não há correspondente porque ocorre fora do ano de treze meses, portanto não seria regido por nenhuma árvore.

Estas são, de acordo com "A Deusa Branca", as árvores que correspondem ao antigo alfabeto e calendário celta. Notemos que todas elas são árvores (entenda-se por árvores qualquer tipo de planta -  pois antigos celtas não faziam a distinção botânica que existe hoje), que se desenvolvem em solo europeu.
Se existisse um "horóscopo celta das árvores" - digo novamente: "se existisse" (pois não há)- é bem provável que este estaria  ligado, no mínimo, às árvores europeias.


segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Brocéliande - A Floresta de Merlin

Muito me admirei quando, na busca por quaisquer informações em português, encontrei muito pouco a respeito de Brocéliande, também conhecida como a "Floresta de Merlin".
Há poucos dias numa visita a um sebo da cidade, deparei-me com um fantástico livro de Jean Markale chamado "Merlin, O Mago". Logo no prefácio, o autor declara: "Ao se passar a noite na Floresta de Brocéliande, ouvem-se, às vezes, estranhos ruídos nas árvores. Os céticos dirão que é o vento que sopra nos galhos; outros dirão que talvez seja a voz de Merlim a nos indicar o grande caminho da aventura humana".
Merlin é cidado diversas vezes como "o selvagem" ou "o louco dos bosques", isto segundo narrativas como "Vita Melini", de Geoffrey de Monmouth. Ou seja, ele é o mago solitário que habita os bosques à procura da sabedoria e do entendimento. Diversos relatos destes bosques se encontram na literatura onde Merlin aparece e 'Brocéliande' é nome dado a esta floresta.
Merlin & Viviane em Brocéliande
 A localização exata de Brocéliande ainda é fruto de grande discussão mas acredita-se que o local é onde hoje está a Floresta de Paimpont, na Bretanha (não confundir com a Grã-Bretanha), França. Esta região foi habitada pelos antigos gauleses onde, inclusive, se encontra o famoso túmulo de pedras onde acredita-se estar os restos mortais do mago.
Segundo as lendas, de tempos em tempos o mago voltava ao bosque para reencontrar a espiritualidade dos antigos druidas que comungavam com a natureza e se recusavam a construir templos de veneração aos deuses. Eles acreditavam que a divindade só poderia ser acessível no âmago das florestas, no "Nemeton" (leia o post sobre os Nemetons).
De acordo com Jean Markale, a Floresta de Brocéliande cobria todo o centro da península, mas hoje restam apenas alguns bosques como o de Paimpont onde, segundo relatos, é considerado o bosque onde se desenvolveram diversas façanhas nos mitos arthurianos.
O grande Merlin já conhecia os poderes da floresta e até hoje Brocéliande é considerado um local místico onde, acredita-se, o espírito do mago perambula em meio a paisagem feérica.


Suposta tumba de Merlin

domingo, 23 de dezembro de 2012

Oengus MacOg - O Filho do Sol e da Água

Muitos sabem que Oengus MacOg é um deuses dos Thuatha de Dannan que foi posteriormente associado à juventude e ao amor. A história em relação a seu encontro com sua amada é bem conhecida entre os admiradores da mitologia celta, mas vou dedicar-me a contar uma história que muito pouco se conta: a concepção e o nascimento do jovem Oengus.
Miticamente, Oengus foi concebido na relação entre o Deus Sol, Dagda (o bom deus), e Boann (deusa do rio Boyne que corre logo abaixo da colina de Newgrange - na Irlanda).
A deusa Boann vivia com seu marido Elcmar, em Newgrange, quando Dagda, procurando um local para descansar, encontrou a colina onde vivia o casal. Ao se deparar com Boann, ficou encantado com sua beleza.
Para que pudessem ficar juntos por alguns momentos, o deus Dagda enviou Elcmar à uma missão que deveria durar um dia. Mas, como ele era o rei do sol e do céu, conseguiu fazer com que nove meses parecessem um único dia.
Quando Elcmar voltou - pensando que era a noite do dia em que partira - encontrou sua esposa Boann com um bebê no colo e lhe disse: "Mas que é maravilha! Um bebê nos foi concebido pela manhã e nasceu agora pela noite...".
Elcmar não imaginou que a criança pudesse ser de Dagda, encantou-se com o pequeno e ajudou a cuidar como se fora mesmo seu filho. Deram ao bebê o nome de "Oengus MacOg".
Um dos significado para o nome Oengus é "a escolha" e MacOg o "filho mais jovem". Tornou-se um grande guerreiro e é considerado o "Apolo Celta", símbolo da Juventude e do Amor.
Esta história é uma analogia ao que ocorre nos solstícios de inverno, em Newgrange. Na mitologia celta irlandesa a "terra" é feminina e o "sol" é masculino. Nesta época do ano, por volta do dia 21 de Dezembro, a luz do sol nascente penetra pela fenda próxima à entrada central, atingindo o fundo da câmara e ilumina todo o espaço da gruta. Isto é interpretado como o relacionamento sexual entre o céu e a terra. A passagem então se torna a representação da vulva de uma mulher, a câmara o seu útero e o feixe de luz é o falo que a fecunda. 



Muitos acreditam que as esculturas nas paredes de Newgrange, embora muito mais antigas que os celtas, refletiam este mito: as tão famosas formas onduladas, características marcantes desta cultura, são alegorias das águas do rio Boyne e, os espirais representam Dagda, o deus Sol.
É comum entre os neopagãos adotarem novos nomes e, embora seja agnóstico, "Oengus" foi o nome que adotei no tempo em que frequentei alguns grupos de paganismo.


Newgrange Passage


O Apolo Celta

Oengus MacOg
Oengus pode ser considerado o "Apolo" da mitologia celta, sendo ele o deus que representa o Amor e a Juventude. Era o mais jovem dos deuses dos Thuatha de Danann. Em plena força, nele a alegria se mesclava com a beleza. Irradiava energia e, em um simples olhar, transmitia seu encanto.
Assim como Apolo, Oengus é muitas vezes representado tocando sua harpa mágica. Sua música paira sobre os jovens soprando palavras de amor em seus ouvidos.
De acordo com o livro "Contos e Lendas da
Mitologia Celta": "A beleza de todos o os outros jovens se eclipsava quando ele surgia com seu amplo manto verde de franjas tecidas com raios de sol e os cabelos loiros realçados pelo brilho de seus olhos."





segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O Carvalho - Árvore das Árvores


Quercus Robur
Após dedicar um post sobre os bosques sagrados, nada como escrever sobre aquele que é o senhor das árvores.
O culto ao carvalho está em diversas culturas europeias, mas a veneração a esta espécie se deu principalmente entre os vikings e, obviamente, entre os celtas.
Também conhecida como carvalho-vermelho ou carvalho-europeu (Quercus robur), esta espécie pode chegar até 40 metros de altura e viver mais de 1.000 anos. Mas este gigante tem crescimento lento e demora até 50 anos para produzir as bolotas que geram novos brotos.
Há alguns milhares de anos atrás, os carvalhos cobriam considerável parte da Europa ocidental, mas o uso de sua madeira nobre para os mais diversos fins dizimou populações inteiras de carvalhos ao longo dos séculos.
A palavra celta para carvalho era "Duir" que significa "porta". Estudiosos acreditam que, nas religiões dos antigos celtas, a árvore facilitava a passagem para o mundo espiritual através de seus portais. Em inglês, porta é "door", e acredita-se que tenha esta mesma origem.
É uma árvore que estava associada à resistência e à força afinal ela pode sobreviver por centenas de anos e resistir às mais variadas adversidades. O Carvalho atrai raios e é uma das poucas árvores que podem resistir a eles, também por este motivo ele era considerado uma um símbolo de poder.
A reverência ao carvalho se dava principalmente no solstício de verão, onde as grandes fogueiras paras os rituais eram acendidas, exclusivamente, com madeira de carvalho. É no verão também que as flores do carvalho desabrocham.
As florestas de Carvalhos eram, para diversos povos europeus, consideradas sagradas e nelas habitavam seres fantásticos. Eram, certamente, os locais mais apropriados para rituais e cerimônias pagãs. 



  * leia mais no post 'Nemetons - Os Bosques Sagrados'




O Carvalho de Sherwood


Ele é tão lendário quanto o próprio Robin Hood, mas, ao contrário da lenda, ele é bem real e está lá, em pé, na floresta de Sherwood na Inglaterra. 
Também conhecido como Major Oak (Carvalho Maior), acredita-se que ele tenha cerca de mil anos, 10 metros de circunferência e mais de 15 metros de altura. É uma árvore tombada como patrimônio na Grã-Bretanha e conta-se que, dentro dela, se escondia o arqueiro fora-da-lei que tirava dos ricos para dar aos pobres.
Robin Hood
As origens do mito "Robin Hood" é desconhecida, mas sabe-se que já na idade média baladas sobre os feitos do herói encapuzado e seu grupo de bandoleiros (Merry Men) eram cantadas nas tavernas inglesas. Ele se tornou um célebre personagem da literatura e, junto com ele, o Grande Carvalho de Sherwood, se tornou famoso. Major Oak é considerada uma das mais lendárias árvores do mundo e recebe milhares de visitantes todos os anos, em Nottinghamshire,.
A Grã-Bretanha e a Irlanda estão repletas de árvores mitológicas e destes países grandes contos sobre bosques e árvores encantadas surgiram. Mas é no coração da Alemanha que está a maior das florestas de carvalhos, e dela brotaram muitas lendas e fábulas que ate hoje fazem parte dos imaginário europeu.
O documentário abaixo conta a história desta grande floresta alemã, uma das poucas que sobraram após séculos de extrativismo destes gigantes centenários.



quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Nemetons - Os Bosques Sagrados


Acredita-se que os antigos celtas cultuavam as árvores como verdadeiras deidades e muitos bosques eram considerados locais sagrados, onde seres divinos habitavam.
Para esta antiga civilização, as árvores eram o símbolo primordial da vida. Reza uma antiga lenda celta que o primeiro homem fora criado de um amieiro e a primeira mulher de uma sorveira.
Mas as árvores também eram um símbolo de morte e renascimento. Muitas transmitiam este poder quando, nos meses do Outono e do Inverno, perdiam suas folhas. A capacidade de brotar, florir e frutificar novamente, era visto com admiração e sacracidade.
Em certas regiões, caixões de madeiras eram feitos de troncos ocos pois acreditavam que o espírito daquela árvore podia guiar o morto ao outro mundo.
Os espíritos das árvores eram reverenciados e, de acordo com as lendas, plantando um broto, semente, ou estaca, no mesmo local onde a árvore mãe havia secado, ali permaneceria o espírito guardião da árvore.
É sabido que os celtas não tinham templos como outros povos europeus do mesmo períoso, e eram nos bosques que os ritos e cerimônias religiosas se realizavam. Para eles, ali, em contato direto com a natureza e os espíritos das árvores e das florestas, é que podiam entrar em contato com o divino universal.
No mito celta, os bosques eram a morada de seres encantados, fadas e outros elementais, por isso, deviam ser respeitados e também temidos. Muitos locais, deveriam inclusive ser evitados, pois eram lares de energias obscuras, onde somente alguns druidas e anciãos podiam entrar. Normalmente, eram lugares onde cresciam espinheiros (leia no post Crataegus), pois e os elementais do local podiam enfurecer-se e voltar-se contra os intrusos.
Druida
Haviam também, nos bosques, os poços sagrados e, geralmente, quando necessitavam da água, os antigos pagãos amarravam uma oferenda na árvore mais próxima ao poço, assim estariam reverenciando o espírito guardião e os seres que ali estavam.
Segundo estudiosos, a palavra celta para bosque sagrado era "Nemeton", e os bosques de carvalhos eram, na maioria dos casos, os mais adequados para as reuniões e assembleias druidicas. A própria palavra druida sugere que o nome seja derivante de drus (carvalho) e seu significado seja "aquele que tem o conhecimento do carvalho". Os bosques de carvalho seriam, portanto, os locais mais indicados na busca pela sabedoria.
Gerald Gardner, em seu livro "O Significado da Bruxaria", afirma as catedrais cristãs foram construídas baseando-se nos antigos bosques sagrados. Os arcos e abóbadas têm as formas das copas arredondadas das árvores. As janela ao leste são como o sol nascente. Já os vitrais reproduzem os vãos entre as árvores por onde entra a luz em meio às folhas e o  centro é como uma clareira,
Segundo Gardner, foi o desejo de levar para dentro das igrejas a antiga morada dos deuses que fez com que as catedrais adquirissem tal forma.


Floresta de Sonian - Bélgica



A Sacracidades das Àrvores 



"Para mim, as árvores sempre foram os pregadores mais penetrantes. Eu as reverencio quando vivem em tribos e famílias, em florestas e bosques. Nos seus ramos mais altos o mundo sussurra, suas raízes repousam no infinito; mas eles não se perdem lá, eles lutam com toda a força de suas vidas por uma única coisa: realizar-se de acordo com suas próprias leis, construir sua própria forma, para se representar. 
Nada é mais sagrado, nada é mais exemplar do que uma árvore bela e forte. Quando uma árvore é cortada e revela sua ferida de morte nua ao sol, pode-se ler toda a sua história no disco luminoso e inscrito de seu tronco: nos anéis de seus anos, nas suas cicatrizes. Toda a luta, todo o sofrimento, toda a doença, toda a felicidade e prosperidade estão verdadeiramente escritos, os anos estreitos e os anos luxuosos, os ataques resistidos , as tempestades que suportaram. Cada jovem lenhador sabe que a madeira mais dura e nobre têm os anéis mais estreitos, que no alto das montanhas e em constante perigo crescem as árvores quase indestrutíveis, as mais fortes, as ideais.
Um desejo de vagar rasga o meu coração quando ouço as árvores farfalhando ao vento à noite. Se as ouvimos em silêncio por muito tempo, essa saudade revela seu núcleo, seu significado. Não se trata tanto de escapar do sofrimento, embora possa parecer. É uma saudade de casa, de uma memória da mãe, para novas metáforas da vida... Então a árvore farfalha à noite diante de seus próprios pensamentos. 
As árvores têm pensamentos longos, de respiração longa e repousantes, assim como têm vidas mais longas do que a nossa. Elas são mais sábias do que nós... Quem aprendeu a ouvir as árvores não quer ser uma árvore, não quer ser nada além do que se é. Isso é felicidade.”

Herman Hesse










segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Florais - Os Caminhos do Dr. Bach

Tomei a liberdade de reescrever este texto que fora publicado pela revista "Informativo em Gostas", no ano de 2011.
A Dra. Carmen Monari escreve sobre o fascinante caminho do Mestre Bach (descobridor dos Florais).

"Em 1928, ele abandonou o sucesso, todo seu trabalho científico, muitos publicados em revistas médicas, onde sempre foi bem conceituado e respeitado. Ele fez as malas e foi viver em Gales, na região do norte, se fixando na pequena vila entre os bosques de Carvalhos e Lariços. Uma área cheia de nascentes curativas. Tal mudança foi lhe orientando em suas buscas, ouvindo seu coração e sua intuição.
Depois de algum tempo, Dr. Bach foi para a Ilha de Anglesey, que é a ilha da Grande Mãe Mona, Mãe dos Galeses. Neste local celta sagrado, onde os druidas ensinavam seus discípulos sobre as forças da mãe natureza, ele foi buscar a força e o conhecimento.
O conhecimento druidico era oral e pelo coração, aprendendo a contemplar a natureza e todo o som que vem do coração das montanhas, fazendo a terra vibrar e o calor do Sol Central dinamizar o ciclo da vida. Lá ele observou todos os elementos
que trariam o poder de cura vindo da natureza. Visitou os lagos que têm a força de fazer um espelho para refletir a essência do profundo para o despertar da alma. Escolheu duas nascentes cultuadas pelos antigos celtas para preparar o "Rock Water", única essência floral que é feita destas nascentes especiais.
Seguindo seu caminho, Dr. Bach foi buscando o local onde teriam as flores especiais que fariam a cura profunda pelo poder da vida da natureza. Em Brecons, próximo ao rio Usk, Dr. Bach descobriu o Mimulus e Impatiens, que foram as primeiras flores em seu sistema. Depois encontrou a Clematis e descobriu o método Solar para preparar os florais, mantendo a força da alma das flores para passar para à água, que em seu cristal guarda a memória da cura.
Após a Clematis, Dr. Bach seguiu suas buscas para Cromer, nordeste da Inglaterra, onde encontrou os Florais de Agrimony, Chicory, Centaury, Cerato e Scleranthus que foi o nono floral. Logo após, descobriu o Water Viotet em Sussex, Gentian e Rock Rose em Kent, fechando o grupo dos doze curadores.
Em seguida, ele iniciou o grupo dos auxiliares com Gorse, Oak e Heather. Pediu para amigos prepararem o Olive e o Vine, na Itália, já que estas duas espécies não crescem naturalmente na Inglaterra mas eram importantes para o Sistema de Cura.
Em sua busca do local onde se fixar, o qual tivesse próximo a todos os Florais descobertos, escolheu em 1934 a cabana Mount Vernon, na cidade de Wallingford. Neste espaço sagrado viveu seus dois últimos anos, até 27 de novembro de 1936, descobrindo em 1935, o segundo grupo de mais 19 Florais.
Assim, disse que seu Sistema de Cura estava completo e que sua missão terrestre fora cumprida."



AS ÁRVORES DE BACH


Ao conversar com uma amiga fisioterapeuta e terapeuta floral, me pus a pensar nos caminhos do Dr. Bach (leia o post referente) e seu encontro com as árvores sagradas. É sabido que dos 38 florais descobertos pelo doutor, alguns deles foram através de árvores, a maioria delas comumente encontradas nas Ilhas Britânicas.
Nos caminhos do Dr. Bach, é provável que ao deparar-se com as lendas e mitos celtas, ele pode apreciar um carvalho de forma diferente e ver um azevinho com outros olhos.
Sua pesquisa o levou à algumas espécies mitológicas cujas propriedades fitoterápicas já existiam, mas seu método inovador e a maneira como passou a absorver tais propriedades e emprega-las nos florais se tornou conhecida no mundo todo.
Me proponho então a descrever às espécies arbóreas utilizadas pelo grande Dr. Bach e seus usos. Para ele, na espécie que determina a personalidade, ou estado mental, também estava a cura.
Ele prescrevia, portanto, os florais de acordo com a personalidade ou estado mental de cada um. A personalidade levava à espécie e também ao remédio, em conjunção e não em contra-posição, o que é mais interessante nos estudos de Bach.





O Álamo: Aspen

O floral extraido do álamo é dedicado às pessoas com medos desconhecidos. Ansiedade, apreensão, pânico de algo o qual não se consegue explicar.
Assim também treme o álamo mesmo quando não parece haver vento ou brisa para tanto.

A Faia: Beech
São pessoas perfeccionistas com dificuldade em aceitar os outros e idéias divergentes. Embora aparentem ser calmas e pacientes, no fundo são irritadiças. Faltam-lhes tolerancia e empatia.
Assim também a faia, embora grandiosa, não tolera facilmente outras plantas crescendo ao seu redor.

A Macieira: Crab Apple

É também conhecido como o "floral da limpeza", e é indicado aqueles que se sentem impuros ou com a sensação de estarem sujos. Normalmente as pessoas que necessitam deste floral tendem a ser orgulhosas e extremamente exigentes, cuja as mentes se focam mais em detalhes triviais do que em questões de real importância.
Assim também a Macieira é uma árvore bastante exigente em relação a tipos de solos e clima e seu fruto é muito utilizado para a limpeza da garganta e do organismo como um todo.

O Olmo: Elm

É o floral indicado para aqueles que se sentem assoberbados, esgotados e como muitas responsabilidades. São pessoas capazes, competentes e responsáveis, mas o fardo da responsabilidade se torna, muitas vezes pesado demais, e elas sentem que não conseguirão suportar e chegaram ao fim de suas resistências. O remédio ajuda a tranquilizar e reenergizar a mente.
Assim também o Olmo é considerada a árvore que revitaliza e reenergiza. É uma árvore que também simboliza a força e sua madeira é flexível e durável.

O Azevinho: Holly

É o floral recomendado para aqueles com espírito de vingança , ódio, ressentimentos e ciume. Porém o Holly é utilizado quando os sentimentos são mais explosivos.
Assim também o Azevinho é considerado a árvore da luta. Suas folhas pontiagudas faz com que aqueles que se aproximem fiquem atentos pois podem se machucar, afinal, além de duras são cortantes.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Visco - A Erva Sagrada dos Druidas



No penúltimo post, relatei uma antiga lenda indígena norte-americana sobre esta estranha planta que cresce entre os galhos das árvores. Porém, o visco era muito mais venerado entre os druidas e sua colheita era uma celebração à parte.
Ele é uma planta semi-parasita (hemiparasita), ou seja, se utiliza da árvore hospedeira, não somente como apoio mas também faz uso de sua seiva.
De acordo com alguns escritores antigos que tiveram contato com os druidas, o visco era conhecido como "a planta que cura todos os males", e era utilizada por eles para os mais diversos tipos de medicamentos e encantamentos. Acreditavam que era afrodisíaco, aumentava a fertilidade, e servia como antídoto para os mais diversos venenos. Era considerada uma das mais sagradas das ervas, pois diziam que suas raízes não cresciam sob a terra mas acima dela. Ele estava, portanto, entre os dois mundos.
Segundo o mito da colheita do visco, os cachos deviam ser cortados por um sacerdote druida na lua nova antes do solstício de inverno. Apenas um sacerdote druida do sexo masculino (não se tem provas legítimas de mulheres druidas) podia faze-lo e, para isto, uma pequena foice de ouro devia ser usada, não podendo deixar cair nenhum dos ramos sobre na terra. Utilizavam, para isto, panos estendidos sob a árvore, segurados por outros druidas, ou aprendizes, abaixo do ramo que seria cortado. 
O visco há tempos vem sendo chamado de "erva-dos-druídas" e são raramente encontrados em carvalhos (a árvore dos druidas), o que dava mais valor ao visco dos carvalhos e enaltecia ainda mais sua coleta.
O trecho a seguir foi retirado do livro "Os Mistérios dos Druidas", de Philip Carr-Gomm. O autor, que faz parte da Ordem dos Bardos Ovates e Druidas (O.B.O.D), retrata o significado do visco da seguinte forma:

"A reverência dos druidas pelo visco deriva da associação simbólica deste ao esperma masculino, devido à cor e a consistência do sumo das suas bagas. Embora cresça a grande altitude, esta planta não necessita de tocar no chão, pelo que simboliza a semente em potência que aguarda o momento da concepção... A semente que cresce no ar simboliza a semente de Deus antes de encarnar na Terra pois vive numa árvore, ou seja, muito perto dos céus. O druida corta-a com uma foice de ouro, que representa o sol e a lua, ou o poder masculino e feminino, em união. Uma vez ocorrida a conjunção ( união) a semente é trazida para a terra (o corpo da Deusa).
O visco simboliza o momento da encarnação... Por sua vez, o carvalho representava a eternidade da tradição..." 
Ainda hoje, principalmente na Grã-Bretanha, ramos de visco são - junto aos de azevinhos - utilizados nos enfeites natalinos. O Natal, por sua vez, marca a data do nascimento da divindade que, segundo a crença cristã, desceu dos céus e se encarnou. 
Isto mostra que as antigas práticas e representações pagãs de alguma forma sobreviveram, mesclando-se e entrelaçando-se aos novos cultos; mesmo após séculos de tentativas de supressão por parte do cristianismo dominante. 

 




sábado, 19 de maio de 2012

Ameixeira-Brava - O Abrunheiro

Ela é conhecida também como espinheiro-negro. Apesar do abrunho ser sinônimo de ameixa, esses frutos são muito diferentes, sendo as bagas do abrunheiro azuis, e 'brava" é devido aos inúmeros espinhos que possui.
Assim como o espinheiro-alvar ( o pilriteiro), o espinheiro-negro, embora estivesse associado à má sorte, ao mesmo tempo era considerado de grande sacracidade e ligado à proteção. "Straif" quer dizer "luta" e, assim como o pilriteiro, esta árvore costuma crescer em sebes e eram plantadas formando cercas-vivas para que pudessem proteger e delimitar certos locais.
Seus espinhos são tão potentes que antigamente eram usados para perfurar couro e, caso furasse a pele, sabia-se que podia acarretar em forte coceira e até mesmo inflamações.
Da casca em pó, das raízes, e dos frutos secos, eram preparados medicamentos para dores de barriga, de estômago, fluxo mestrual descontrolado e hemorragias.
O abrunheiro é considerado tão poderoso no folclore irlandês, que tem a sua própria tribo de fadas para guardá-lo. Elas são chamadas de "Lunantisidhe" ou "Lunantishee", e são descritas como criaturas furiosas, que amaldiçoam todos aqueles que tentam cortar uma ameixeira-brava no Samhain (novembro) ou no Beltane (maio).
Da mesma forma que o sabugueiro, ele também está relacionado à Deusa em seu arquétipo de bruxa velha. Esta bruxa é, muitas vezes, descrita como uma senhora que carrega um cajado de abrunheiro. As varinhas de ameixeira-brava também eram muito utilizadas na bruxaria.
Com a madeira seca, os espinhos e as bagas, faziam incensos para banir a negatividade era muito utilizado em cerimônias de purificação.






Anuna - Blackthorn (Abrunheiro)


Muitos homens pensam que eu sou deles,
Quando me sento com eles, quando eu bebo com eles.
Nada se compara a tudo o que foi compartilhado
Entre você e eu, entre eu e você.

A neve cai na montanha de Sliabh Uí Fhloinn
E o meu amor é como flor no abrunheiro.

Então muitos homens procuram pelo galho mais alto
Para encontrar o fruto amargo, para encontrar o fruto amargo.
Próximo ao alcance da mão está o mais doce baga.
No ramo mais baixo, no ramo menor.

A neve cai na montanha de Sliabh Uí Fhloinn
E o meu amor é como flor no abrunheiro.





sexta-feira, 18 de maio de 2012

O Visco - Uma Lenda Indígena



Os índios norte-americanos diziam que o visco era uma planta muito estranha, pois não vivia na terra com outras plantas mas é encontrada crescendo nos ramos das árvores por si só. Apenas as aves podem atingir as bagas brancas que aparecem tanto no verão como no inverno. É por isso que o visco é encontrado apenas em árvores.
Houve um tempo, que o visco crescia no solo como uma pequena planta arbustiva. Um dia, quando ele estava crescendo no chão, um pássaro sagrado, conhecido como "Pássaro de Fogo", o encontrou e começou a comer suas bagas. Depois de come-las, o pássaro agradeceu, e o visco educadamente respondeu: - "Estou feliz que você gostou dos meus frutos, mas não vou ficar aqui por muito tempo porque vou morrer em breve".
Mitletoe
O pássaro abriu o seu bico vermelho e perguntou: "Por que você deve morrer, bela planta?"- e o visco respondeu - "Porque eu sou verde o ano todo. Meus frutos crescem no inverno, quando as bagas outros sumiram, muitos animais se alimentam delas, mas eles pisam em meus galhos e eles estão frágeis, por isso, não viverei por muito tempo." - então, o pássaro, com pena do visco, lhe disse - "Vou levá-lo do chão e colocá-lo onde os animais que andam sobre a terra não poderão mais pisoteá-lo". 
O sagrado pássaro levou o visco em seu bico forte, voou até o topo de uma alta árvore, e fixou suas raízes em um do galhos. Voltou ao chão, colheu um pouco de terra, subiu novamente, e embalou ao redor das raízes da planta. 
"Agora você vai crescer aqui nesta árvore, e os animais não quebrarão mais seus galhos." - disse o pássaro - "Sim, eu vou crescer, mas minhas sementes cairão no chão e meus descendentes irão sofrer como eu!" - retrucou o visco.
O "Pássaro de Fogo" limpou o longo bico e aderiu algumas das bagas do visco em outro galho e disse - "Viu? Eles vão brotar lá como você. E sempre que outras aves comerem os seus frutos, elas limparão seus bicos como eu, e suas sementes continuarão crescendo sobre os galhos".
O visco, porém, teve que adaptar-se a viver sem a terra e continuou crescendo sobre as árvores. Servindo sempre como alimento aos mais diversos pássaros e obtendo deles a cooperação para perpetuar a sua espécie.



quarta-feira, 16 de maio de 2012

À Sombra do Plátano


OMBRA MAI FU

Frondi tenere e belle
del mio platano amato
per voi risplenda il fato.
Tuoni, lampi, e procelle
non v'oltraggino mai la cara pace,
nè giunga a profanarvi austro rapace.
 
Ombra mai fu
di vegetabile,
cara ed amabile,
soave più.




Esta é a ária de abertura da ópera "Xerxes", de George Friderik Handel.
É uma das mais conhecidas peças deste famoso compositor do século XVIII, onde ele levou ao palco a história de Xerxes I e do plátano de Heródoto.
O grande rei da Pérsia estava marchando para Sardes quando se deparou com um plátano em Kallatebos, próximo ao rio Meandro. O rei ficou tão encantado com a sombra da árvore que o adornou com ornamentos de ouro e ordenou que um de seus homens ficassem ali como guardião.



NÃO HÁ SOMBRA

Folhas macias e belas,
As do meu Plátano amado.
Por vós resplandece o destino.
Trovões, relâmpagos e tempestades
Não haverão de tirar-lhe a cara paz.
Nem virá profanar-lhe o vento voraz

Não há sombra,
de nenhuma árvore,
mais preciosa e adorável.
Nem mais suave.



 


sexta-feira, 27 de abril de 2012

Maria - A Deusa Mãe Cristã

Na versão cinematográfica da obra de Marion Z. Bradley, "As Brumas de Avalon", na ultima cena da película, Morgana diz: "... a Deusa foi esquecida. Assim eu pensei por muitos anos. Até, finalmente, perceber que a Deusa havia sobrevivido. Ela não foi destruída, apenas adotou outra encarnação. Talvez, um dia, as gerações futuras poderão fazer com que volte a ser como a conhecíamos na gloria de Avalon."
A história das "Brumas de Avalon" gira em torno dos conflitos religiosos existente entre os antigos adoradores da Deusa e os novos cristãos na Grã-Bretanha da Idade Média
A ascensão do cristianismo no ocidente se deu após o imperador romano, Constantino, adotar a religião e proclama-la oficial no século IV D.C. Segundo a narrativa histórica, o imperador se converteu devido à sua mãe, Helena (canonizada posteriormente se tornando Santa Helena), exercer grande influência sobre ele. A Rainha Helena era cristã extremista.
Um fato que pouco se comenta é que, na época de Constantino, o cristianismo se fortalecia, romanos pagãos aderiam ao cristianismo buscando o alento de seus problemas na nova fé. É provável que o fato dos mártires morrerem orgulhosa e corajosamente nas arenas tenha atraído os cidadãos ao conhecimento da religião, adotando-a posteriormente.
Não quero me estender na questão político-social que levou Constantino a adotar a religião e conclama-la oficial, mas é importante citar que os conflitos que haviam entre pagãos e cristãos perpetuaram por muito tempo no império.
A divindade feminina entra em questão exatamente nestes conflitos. O cristianismo era um apêndice do judaísmo que, ao contrário das maioria das religiões pagãs, não possuíam uma figura feminina de Deus. Os pagãos se perguntavam aonde estava a "Deusa Mãe" naquela nova religião e a necessidade de acalmar os ânimos fez com que a figura de Maria tomasse tal lugar. Para que os cidadãos pagãos aderissem à nova fé, era necessário que algo fosse feito.
Não é novidade que o culto a Maria se tornou tão intenso quanto o culto à Deusa Mãe Pagã. A figura materna de Maria ocupou, por séculos, o lugar deixado pela grande deusa ancestral.
Talvez tenha sido mesmo a maneira que a Grande Deusa Mãe encontrou para permanecer entre nós. 


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Crataegus - O Pilriteiro



Costumo dizer que não se conhece o Pilriteiro mas se conhece o Crataegus. Isto porque seu uso na medicina fitoterápica e homeopática é bastante comum, porém, o nome que eles utilizam é simplesmente o nome científico Crataegus Oxyacantha.
Fato que poucos sabem, é que o uso do crataegus é muito mais antigo na medicina natural do que se supõe,principalmente entre os antigos celtas.
O Pilriteiro, também conhecido como "espinheiro-branco" ou "espinheiro-alvar" é uma árvore de pequeno porte muito comum nas ilhas britânicas. É provável que a origem do nome "Hawthorn" (um pouco redundante quando traduzida para o português) seja uma variante de "Hedgethorn" (cercas vivas). Hedge (cerca) por sua vez deriva de "Haga" que compartilha a mesma raiz de "Hag" (Bruxa). As bruxas sempre foram consideradas seres que estavam nos limites entre este mundo e o mundo mágico, sobrenatural, imortal, além. Ou seja, eram conhecedoras e mediadoras das passagens entre os mundos.
Havia a tradição de plantar espinheiros-brancos à beira dos poços de àgua. Essas árvores eram consideradas tão sagradas que jamais, em nenhuma hipótese, deviam ser cortadas. Muitos destes poços eram utilizados na comunicação com o outro mundo e com os espíritos ancestrais. Fitas eram amarradas nos galhos dos pilriteiros representando pedidos aos espíritos da natureza. Esta prática pagã foi posteriormente substituída pelas moedas (Poço dos Desejos), mas segue viva em muitos locais onde habitaram os antigos celtas.
Rainha de Maio
O espinheiro está também ligado às tradicionais festividades de Maio (Beltaine) onde as Rainhas de Maio (Rainhas  da Primavera) eram escolhidas entre as moças mais belas da comunidade. Elas eram vestidas de branco e coroadas com flores de pilriteiro e carregadas em liteiras junto a uma procissão que acompanhava celebrando o novo ciclo. Estas festas existem até hoje nas Ilhas Britânicas, Irlanda e até mesmo em Portugal, onde essas coroas são chamadas de Maia.
O Pilriteiro é, sem dúvidas, uma das árvores que mais se relaciona com as práticas mágicas, e era considerado tão sagrado que corta-lo podia levar à uma punição de morte. Isto porque acreditavam que cortar um espinheiro podia trazer má-sorte para toda a comunidade.
Reza a lenda de que o mago Merlin foi preso dentro de um Pilriteiro pela fada Viviane. A Dama do Lago, desejando conhecer os mais ocultos segredos da magia, seduziu Merlin lhe fazendo juras e prometendo amor eterno. O mago caiu em seus encantos e revelando à ela certos mistérios que nunca havia dito à ninguém. Ao  contar como manipular a poderosa magia secreta, o mago deu à Viviane a chave para ela pudesse agir contra ele mesmo. Assim, ela o prendeu dentro de uma árvore, de onde Merlin nunca mais pode sair.






O PILRITEIRO DE GLASTONBURY


José de Arimatéia e o Pilriteiro
Conta-se que, nos primórdios do cristianismo, José de Arimatéia ao sair do Oriente rumo à Inglaterra, levava consigo o "Santo Graal".
Sua intenção era enterrar o Graal e fundar uma Igreja onde o Cristo pudesse ser reverenciado.
Ao chegar em Glastonbury vislumbrou a "Ilha das Macieiras" (Avalon) e bateu seu cajado na Colina de Wearyall. Logo que cravou seu cajado, este começou a brotar e de seus ramos saíram centenas de flores. Nasceu alí um belo Pilriteiro que foi chamado posteriormente de "o báculo de Arimatéia".
O santo, acreditando que isto era um sinal, construiu alí a primeira Igreja Cristã da Grã-Bretanha.
De acordo com os historiadores, realmente existia um famoso pilriteiro na proximidades do lugar mas fora cortado na revolução puritana.
Os monges de Glastonbury o perpetuaram e o santificaram fazendo com que a população acreditasse na lenda de José de Arimatéia provavelmente para desestimular os ritos e as práticas pagãs ao redor dele.
Em minha concepção, até mesmo os monges tinham receio de corta-lo, por isso preferiu-se criar uma lenda cristã ao redor da mitológica árvore.







segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A Deusa Branca

Há tempos gostaria de postar a respeito daquela que é, sem dúvidas, a minha grande musa.
Dentre tantos livros que li, "A Deusa Branca", de Robert Graves, é um dos mais fabulosos que pude apreciar, tanto que se tornou o meu livro de cabeceira. A obra é muito mais do que uma joia literária, mas um grande compêndio quando se trata de estudos teológicos, mitológicos e antropológicos.
Conheci "A Deusa Branca" há alguns anos, quando buscava saber mais a respeito de uma mulher que me aparecera em sonho.
Ela tinha a pele alva, cabelos prateados, vestida uma espécie de túnica branca translucida e seus pés não tocavam o chão. Estava suspensa no ar como uma fada.
Ao acordar tive a certeza de que havia sonhado com uma deusa a qual denominei por conta própria de "Deusa Branca". Mas quem era a Deusa Branca eu não sabia.
Fui então buscar pela mulher que me aparecera. Devia haver, em alguma mitologia, alguma deusa denominada, simplesmente, "Deusa Branca".
Bem, era algo mais surpreendente do que eu supunha.
 

Quem é a Deusa Branca?

Bem, a principio podemos dizer que a Deusa é a grande Musa... Em inglês a palavra "muse" pode designar tanto "Musa" ( mulher que inspira o poeta), como a própria "inspiração". Ou seja, ela é a pessoa ( o ser ) e o sentir ( sentimento ).
"A Deusa Branca", de Robert Graves, é o relato dos mitos poético mas, além disto, desbrava a história das deidades, já que foram as primeiras e principais fontes inspiradoras para a poesia.
É sabido que a lua, desde os primórdios da humanidade, foi vista como uma deusa. Robert Graves diz: "Escrevo sobre ela como a Deusa Branca porque o branco é sua cor principal, a cor do primeiro membro da trindade lunar... a lua nova é a Deusa Branca do nascimento e do crescimento;".
Fato é que os antigos, ao descobrirem a grande influência da lua nas marés, nas plantações, no ciclo menstrual, entre outros, a tomaram como uma das grandes responsáveis pela existência de todas as coisas. Ou seja, ela tinha um poder que estava acima do explicado, portanto, foi divinizada.
Graves continua: "... a lua cheia, a Deusa Vermelha do amor e das batalhas; a lua velha (minguante), a Deusa Negra da morte e da adivinhação.". 
Ou seja, a deusa não é simplesmente Branca, mas a Branca é a grande retentora e progenitora da vida.A Deusa Branca simboliza a divindade feminina em sua plenitude, uma única representatividade de uma deusa que tem milhares de nomes como dizem os neopagãos.



segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A Sarça Ardente - Acácia de Fogo



A Bíblia, assim como outros livros antigos, está repleto de mitologias e muitos desses mitos têm fortes ligações com as árvores e seus cultos. Uma das passagens mais notáveis desta escritura é quando Iahweh (Javé ou Jeová) se apresenta a Moisés através de uma acácia.
Muitos desconhecem o significado da palavra "sarça ardente", mas é de suma importância que seja explicado para que todo o contexto da história faça sentido assim como fazia para os povos do daquela região. Alguns cristãos sequer sabem o que é uma sarça, embora algumas imagens mostrem uma pequena árvore em chamas.
Sarça é um sinônimo botânico para plantas com espinhos e a espécie que está relacionada à passagem bíblica se trata de uma 'Acácia-brava' ou 'Acácia-sarça' (Boswellia sacra). No caso, uma acácia com espinhos, também conhecida como 'Shittah'.
Deus podia ter adquirido qualquer forma para se manifestar e muitos se perguntam quais os motivos dele se mostrar como uma "acácia em chamas" e não em outra forma qualquer.
Primeiramente, é necessário esclarecer que a acácia já era considerada uma espécie sagrada para muitos dos antigos povos do oriente médio. Hebreus e egípcios, entre outros, a tinham como uma árvore de grande veneração e sua madeira era utilizada na fabricação de objetos rituais e mesas para altares. Dizem, inclusive, que a arca da aliança também fora feita com madeira de acácia. Também, muitos dos sarcófagos dos antigos faraós eram fabricados com esta madeira. Tal uso se dava pelo fato dela não apodrecer. Isto fazia com que a tivessem como um símbolo de longevidade e imortalidade.
O Franquincenso, um dos itens oferecido pelos Reis Magos ao menino Jesus, é obtido através da seiva desta árvore que, quando queimada, exala um aroma perfumado muito utilizado nos ritos de purificação. Ele também é conhecido como Olíbano, palavra que vem do árabe e quer dizer "leite", em referência sua cor branca (leia no post Os Reis Magos - Ouro, Incenso e Mirra).
Bem, voltemos à escolha de Iahweh para manifestar-se através de uma 'acácia em chamas'. O mitólogo Robert Graves diz que o fato se explica já no primeiro mandamento dado a Moisés: "Sou o Senhor teu Deus e não terás outros deuses diante de mim". Em outra passagem ele conclui: "Pois sou um Deus ciumento".
De acordo com as palavras de Graves (A Deusa Branca), a acácia espinhosa é uma espécie autossuficiente, não necessita de muita água e sufoca com suas raízes qualquer árvore que cresça ao seu redor. Suas flores também têm o poder de cegar, as sementes de levar à morte, e a única parte da planta utilizada como antídoto é a raiz. Isto quer dizer que deve-se ter cautela quando se trata de uma árvore como esta.
O fato de Deus se apresentar a Moisés como uma acácia em chamas está ligado à própria natureza e simbologia da árvore. Temida por seus espinhos, sementes e flores (o Deus que deve ser sempre temido), solitária e que sufoca as demais (não terás outros deuses pois ele é um Deus ciumento) e autossuficiente (sou o que sou e tudo posso).
Quanto as chamas, elas estão ligadas ao sol. Desde a antiguidade o "Deus Sol" fora representado como a "divindade maior", portanto, o fato da acácia arder como sol a ponto de ofuscar a vista de Moisés, está relacionado ao poder do grande astro rei que sempre fora cultuado como um arquétipo masculino. Assim, pode-se compreender os motivos pelos quais, embora o Deus judaico-cristão não seja necessariamente sexuado, é simbolizado como uma figura paterna.